06/10/2013

Ensaio sobre o infinito




Em As vantagens de ser invisível¸ há uma parte em que Charlie diz que “se sentiu infinito”. Naquele momento, eu pensei que aquilo era absurdamente estranho, considerando que ele não iria viver para sempre. Talvez ele quisesse dizer que tudo ficou tão bom que pareceu infinito. Ou que ele sentiu sua própria alma agitando-se mais do que o corpo, e ela é infinita. Para o mundo e para o sempre, ela é infinita.

Eu posso dizer que senti o mesmo que ele quando ouvi a música Stubborn Love, do The Lumineers, alguns minutos atrás. É uma música linda, e eu sempre quero cantar junto. Ela faz com que eu me sinta feliz, com vontade de chorar ou de sorrir. Acho que isso é mais ou menos o infinito. Quando é tão bom que parece nunca acabar.

Há poucos momentos em que nos sentimos infinitos. Não porque não somos seres felizes ou contentes com as pequenas coisas, porque são elas que nos fazem sentir assim. Mas porque não somos tão tocados a ponto de nos sentirmos infinitos por essas pequenas coisas. Elas são especiais, como ouvir uma certa música, como ler um trecho de livro, ver um vídeo especial, olhar para um lugar ou uma fotografia e ter lembranças muito, muito boas. Nunca há muitas coisas que nos fazem sentir infinitos. Para o Charlie, foi a música Asleep, do The Smiths, que tem um nome parecido com a da banda que tem a minha música infinita, o The Lumineers.

E eu digo que não têm tantas coisas assim, infinitas, porque se não elas deixariam de ser tão absurdamente especiais. Serem raras – mas que existem para todos – é o que as tornam infinitas. Não existem muitos momentos infinitos, pois há o ontem, o hoje, o amanhã e um pequeno infinito que nós vivemos.

Há o infinito entre o 0,1 e o 0,2, que corresponde à música (no meu caso) e há o infinito entre o 0 e o 2. Este último tem números maiores, o que talvez signifique que ele tem mais valor que o primeiro conjunto. Mas os meios talvez fiquem perdidos no caminho, porque ele pode representar a vida – o infinito dela. O conjunto entre 0,1 e 0,2 tem números menores, o que significa que ele tenha menos valor para mim (estou me usando como exemplo). Mas eu me lembro perfeitamente dele, pois a música não é tão comprida quando a minha vida, e é fácil recordá-la.

Então 0 – 2 é a vida, e 0,1 – 0,2 é a música. Ambos são infinitos, um porque simplesmente é e outro porque ele faz com que eu me sinta assim. É uma teoria estranha e eu não consigo achar muito sentido em infinitos, ou na minha vida como um infinito, mas às vezes não é preciso ter um sentido. Às vezes é preciso sentir.

Mas então. O infinito “menor” é mais notável dentro do infinito “maior”. O maior é só um conjunto da vida, e ele é composto só por números. Mas existe esse subconjunto que é o menor. O meu infinito. O que eu escolhi. A minha pequena raridade infinita. Todo o resto da minha vida está em cada número, mas a música tem o próprio infinito.

Porque o mundo, o infinito maior, é composto por todos os outros números (casas, natureza, cores, ar, terra) e existem os subconjuntos – as vidas. Dá pra fazer uma analogia assim. Os subconjuntos dão sentido ao conjunto maior.

Isso ficou confuso (especialmente porque misturei três teorias de livros diferentes: que números representam qualquer coisa, de O Teorema Katherine¸ John Green. E dos infinitos de A culpa é das estrelas e As vantagens de ser invisível). Mas acho que está bom.

Espero que você já tenha encontrado o seu infinito – sua raridade, o seu subconjunto de números menores que sempre irá se lembrar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário